Imagine a seguinte situação: você reserva uma quantia em dinheiro todo mês para quitar uma prestação da casa própria, mas tem o hábito de usar este montante para fazer compras de supermercado e de farmácia. Inevitavelmente, esta forma de gerir seus recursos vai fazer você se deparar com duas situações: você não vai saber ao certo quanto o mercado e a drogaria demandam do seu orçamento mensalmente, e, pior ainda: nunca vai ter o valor da prestação da casa para pagar ao fim de cada mês.
Por pura falta de organização, muita gente atropela as próprias finanças e tira do mesmo bolo o dinheiro para despesas fixas e também para gastos inesperados, ou supérfluos. A consequência disso é não saber quanto e com o que se gastou ao longo do mês. Haja finanças para tanta bagunça!
ERRO COMUM
Da mesma forma que alguém pode misturar as contas domésticas entre si, usando o dinheiro da prestação da casa para a compra de remédios, também se equivoca ao utilizar um montante referente à empresa para quitar a mensalidade da escola do filho, por exemplo.
Segundo o consultor de finanças do Sebrae de São Paulo, João Paulo Cavalcante, o erro de o empresário misturar as contas – a do seu negócio com a sua própria conta – é muito mais comum do que se imagina e, para o presidente do Instituto Dsop de Educação Financeira, Reinaldo Domingos, esta atitude pode ser o determinante entre o sucesso e o fracasso de um empreendimento.
Ser ou não organizado a ponto de realizar a destinação correta dos recursos é uma característica do ser humano, como tantas outras. Porém, criando-se uma rotina financeira, é possível desenvolver o hábito saudável de ordenar o seu dinheiro de forma coerente, passando a ter controle total de suas economias.
POR QUE SEPARAR AS CONTAS?
É preciso manter totalmente distanciadas as contas pessoal e empresarial por uma razão bem simples: para identificar com qual setor está se investindo mais na empresa, e conseguir contemplar todos os nichos que envolvem um negócio: folha de pagamento, despesas com fornecedores, aluguel de sala, conta de luz, equipamentos para a atividade do empreendimento, cursos de aperfeiçoamento etc.
Com apenas uma conta bancária para atender às demandas da pessoa e da empresa, é impossível observar as receitas e as despesas em cada fatia.
De acordo com o consultor de finanças do Sebrae/ SP, com apenas uma conta, é violado o princípio contábil da entidade, “que obriga a separação de receitas e gastos das pessoas jurídica e física. Nesse caso, o contador da empresa pode ser até advertido pelo Conselho Regional de Contabilidade”.
COMO SEPARAR AS CONTAS SE EU SOU DONO DO NEGÓCIO?
Uma dúvida comum nesta missão de não depositar na mesma conta os encargos da empresa e as despesas da pessoa física é sobre quando estes recursos provêm de uma mesma fonte: no caso, se a pessoa for dona do negócio.
Se você é diretor da empresa, ou tem um sócio para a administração deste empreendimento, fica mesmo mais difícil de pensar em salário e, principalmente, em separar o dinheiro que entra e o que sai, do montante que você acumulou ao longo dos anos na sua conta pessoal.
Uma vez que você tem total poder de decisão na empresa, parece mesmo que os investimentos podem sair sim de um mesmo lugar e as receitas podem perfeitamente convergir para uma mesma conta. Afinal, você é dono e o dinheiro envolvido será sempre o seu, certo? Errado!
Um dos maiores equívocos cometidos pelos proprietários de empresa, sobretudo no início, é não preverem um salário fixo. Independentemente da sua condição financeira enquanto pessoa física, possuir um rendimento salarial é estritamente necessário para manter em ordem o controle financeiro nos dois ambientes: pessoal e empresarial.
O PRÓ-LABORE
Neste momento, entra em cena o pró-labore, que é a média calculada entre duas situações: 1 – o valor que o sócio ou dono do negócio precisa para se manter e 2 – o que é pago pelo mercado para cada um destes cargos, de sócio e/ou chefia.
Tendo conhecimento desta média, será possível identificar os recursos direcionados a quem é o proprietário da empresa e também ao sócio, correspondente ao salário dos demais funcionários do empreendimento.
Dessa forma, você terá um salário fixo por atuar na empresa, ainda que ela seja sua e mesmo que você próprio realize investimentos neste empreendimento.
O seu salário jamais deve ser depositado no montante destinado aos investimentos na empresa, assim como este dinheiro para gastar com a empresa não deve nunca partir da sua conta pessoal. Caso contrário, esta bagunça irá gerar perdas financeiras tanto para você enquanto empresário, quanto para as suas economias pessoais.
ORGANIZE-SE
A boa notícia é que você tem a quem e ao que recorrer. Por não ser mesmo uma missão fácil, a de separar as finanças pessoais dos números da empresa, você pode pedir auxílio profissional de um contador de confiança. Além de lhe orientar com os primeiros procedimentos para sair do caos financeiro desta mistura de contas, ele saberá lhe informar o que é legalmente válido, no momento de destinar os recursos da empresa.
O gerente do seu banco também pode lhe passar informações importantes sobre abrir diferentes contas-corrente – até porque os bancos costumam oferecer diferentes possibilidades e recursos para contas específicas de empresa e de pessoa física.
Outra medida a ser tomada é criar uma rotina administrativa de atualizar todos os números referentes à sua empresa e também às suas finanças pessoais, em ambientes diferentes. Dessa forma, você irá perceber mais claramente o quanto entra de receita e o quanto de dinheiro é despendido para cada situação do seu negócio e da sua vida pessoal.
Esta é a fórmula perfeita para você, além de identificar seus principais ganhos e gastos, conhecer o montante que tem entrado e o que tem saído em cada uma das contas: a pessoal e a profissional.
Ainda, você vai perceber o quanto esta mistura de dinheiro estava sendo onerosa às suas economias particulares e ao seu negócio, e passará, a partir desta organização, a notar um rendimento real em ambas as contas.
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