Porém, quando eles usam o crédito oferecido pelas instituições financeiras, boa parte escolhe as modalidades mais caras como cartão de crédito e cheque especial. A constatação é da pesquisa Lado A Lado B Recursos Financeiros, realizada pelo Sebrae-SP que teve o objetivo de entender a visão das duas partes envolvidas no acesso ao crédito: empreendedores e instituições financeiras.
De acordo com o levantamento, 80% dos empreendedores afirmam usar algum produto de crédito como cartão de crédito, cheque especial, financiamento, desconto de duplicatas, empréstimo e antecipação de recebíveis. Dentro desse grupo, os dois primeiros itens ganham destaque já que 45% dos empresários dizem ter aprovada sua solicitação para utilizar cartão de crédito e 44% mencionaram o mesmo sobre cheque especial.
“Os empresários sabem que nem sempre essas opções são as melhores escolhas, mas são as menos burocráticas. O sistema financeiro ainda não incorporou definitivamente os pequenos negócios em sua estratégia de atuação, construindo pontes que ajudem a melhorar o desempenho desses empreendimentos, que hoje somam mais de 10 milhões de estabelecimentos em todo Brasil”, afirma o presidente do Sebrae-SP, Paulo Skaf.
Na pesquisa, o Sebrae-SP constatou que em diversos momentos, apesar de sentarem à mesma mesa para conversar, as visões das partes sobre o assunto divergem bastante. Foram feitas perguntas similares para empreendedores e representantes de bancos e as respostas obtidas mostram percepções bem diferentes, até contraditórias, como se os envolvidos falassem de situações distintas.
Exemplo disso é quando se trata da motivação para buscar crédito. Os dois principais motivos apontados pelas instituições financeiras são: injetar em capital de giro, segundo 87% dos entrevistados e comprar máquinas e equipamentos, com 61%. Já na visão do empreendedor, as porcentagens são menores, sendo 38% e 31% respectivamente.
Com relação aos montantes solicitados também aparecem muitas incongruências. Os proprietários de MPEs dizem que solicitam em média R$ 40 mil; segundo 63%, lhes é concedido o montante total e 19% não conseguem nada. As instituições falam em R$ 62 mil em média, sendo que 37% obtêm o total e apenas 1% tem o pedido negado inteiramente.
Nesse ponto, surgem mais conflitos nas versões. Na visão de 44% dos empreendedores, não é justificado o motivo da recusa. Já 61% dos bancos dizem justificar com as razões reais.
Atendimento
A expectativa do que será encontrado quando se procura uma instituição financeira também é diferente da realidade relatada pelos empreendedores. Mesmo só buscando crédito em último caso, quando o fazem 52% dos empresários esperam receber dos bancos muitas opções de crédito. Encerrada a conversa, cai para 24% a parcela dos que tiveram a expectativa confirmada. Do total de empreendedores entrevistados, 78% chegam ao banco esperando um atendimento detalhado, e ao final, se reduz para 61% os que dizem ter recebido esse tratamento.
Há como amenizar essas divergências? Os dois lados parecem enfrentar dificuldades quando se trata de aproximar a relação entre eles. As instituições financeiras relatam haver dificuldades para lidar com cada tipo de cliente, mas enfatizam que o Microempreendedor Individual (MEI) é o mais complicado de se trabalhar na comparação com micro e pequenas empresas. Segundo os bancos, 62% dos MEIs confundem pessoa física com jurídica, 56% esperam que o banco libere crédito para abrir o negócio e 41% não têm um bom planejamento do empreendimento.
Já os empreendedores acreditam que as instituições lhes oferecem mais produtos para liberar crédito e que há linhas que são apresentadas por serem de maior interesse para o banco. Além disso, acreditam que os bancos os veem como pouco rentáveis.
“A pesquisa constata as divergências entre quem está de um lado e de outro do balcão. Para o empreendedor, há excesso de empecilhos e interesses que não são os seus na concessão. Para as instituições financeiras, há despreparo do cliente que não sabe quanto pedir e nem tem critérios bem definidos sobre a real necessidade do empréstimo”, diz o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Bruno Caetano. “Esses conflitos resultam em uma queda de braço em que o empresário vai atrás de uma solução e vê as expectativas frustradas quando ouve um não do banco, que impõe seus limites para liberar dinheiro”, diz.
A pesquisa
A pesquisa Lado A Lado B Recursos Financeiros teve duas etapas, uma qualitativa outra quantitativa. Para escutar o lado A, os empreendedores, foram realizadas seis discussões em grupo e 720 entrevistas por telefone com proprietários de MPEs e MEIs dos setores de comércio, serviços, indústria e agronegócios. Para dar voz ao lado B, foram feitas cinco entrevistas em profundidade e 90 entrevistas com funcionários de instituições financeiras como bancos públicos e privados.
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